sábado, 12 de julho de 2014

Multidão sozinha. E com fome.

Oficialmente, vivo em São Paulo. Continuando minha tendência nômade - que já somam três novas cidades em um ano -, fiz as malas de novo. Saí do que - para muitos - é um paraíso na terra para arriscar a vida na cidade da garoa. Passsei minhas últimas duas horas trocando de metrô, na busca por um canto onde eu possa andar vestida de mendiga, escutando músicas bregas sem medo de julgamentos: uma casa. No meio da busca, resolvi fazer a executiva e passar em um shopping para um almoço rápido. Sozinha.

Provavelmente você não sabe o que isso significa pra mim. Vejo a refeição como um dos momentos mais sagrados do dia. Prefiro só comer pipoca assistindo Video Show a sentar em uma mesa para comer arroz e feijão sozinha. Vai ver foi isso que me trouxe até aqui, esse lugar de conversas altas e mesas compartilhadas não divididas. Digo isso porque estou sentada em um canto da mesa e essa moça de cabelos cacheados tingidos resolveu sentar no extremo oposto (qual é o problema em sentar-se ao lado de um estranho?).

Quem não veio com amigos encontra-se na mesma situação que eu. Alguns mais desapegados já pegaram o celular, e às vezes dá pra ver um sorriso solto aqui e ali, como quem está bem acompanhado - mesmo que à distância. Os outros comem quietos, às vezes olhando um ponto fixo como quem pensa no relatório que tem que entregar até as 16h, às vezes brincando com a comida para procurar uma distração. E eu fico sentada esperando o restaurante chamar o número 687.

Voltando à sacralidade do almoço, acredito que é diante de um prato cheio que acontecem as melhores conversas, grandes desabafos, xingamentos ao chefe e DR's. Comer sozinho é triste porque é. Se o nhoque está sem sal ninguém vai ficar sabendo e ninguém vai rir se você - sem querer - colocou fígado na boca, achando que era só um bife. Ninguém vai comer a beterraba que você deixou de lado e o intervalo entre engolir e dar outra garfada vai ser simplesmente inútil e longo demais.

A essa altura eu já estou sentindo muita inveja desse grupo de argentinos que está sentado na mesa ao lado, roubando batata frita um do outro e exibindo o sotaque para moças interessadas da mesa da frente. Pensei em puxar um assunto do tipo "e aí caras, sabia que meu namorado é argentino?". Mas sei que seria ridículo.
Eu sentada aqui, já com meu risotto, salada (batata palha na salada, sério?) e uma lata de guaraná e mais nada. Mais ninguém. Preciso conversar, quero conversar! Lembrei de vocês. Escrevi.
Criei esse blog.



2 comentários:

  1. Aqui estou pra ler suas palavras e dar eco a sua quase solidão na multidão de Sampa. Espero que tenha grandes ensinamentos convivendo na cidade de pedras e corações acelerados.
    FICA COM DEUS... CUIDE-SE !!!!

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  2. Como sempre, perfeita nas palavras!!! Gosto de te ler, já lhe disse isso!!!

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Hada-quê?

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Hadassa Aguilera, 23 anos. Meio nômade, toda otimista. Com medo de elevador e morando na cidade com mais edifícios no Brasil.